Cheiro de livro novo: Dramalhama

Título: Dramalhama
Autora: Larissa Rumiantzeff
Páginas: 322
Editora: Sinna
Avaliação: 5/5

Recebi Dramalhama como cortesia da Editora Sinna. Isabela leu no ano passado (leia sua resenha aqui) e percebi que parecia ser bem dinâmico e divertido. Após a leitura lenta e densa de O Bicho-da-Seda, decidi pegá-lo para relaxar. Foi uma leitura muito envolvente!

"Ela sorriu. Era a segunda amiga que eu fazia por causa dos livros. Como se eles as tivessem recomendado. Pensando bem, não era uma forma ruim de se conhecer alguém."


Júlia está no ensino médio e ainda não sabe o que quer fazer no futuro. Está relativamente confortável com a vida que leva em Cabo Frio, sendo uma aluna mediana e aproveitando a companhia das amigas. Após uma discussão em sala de aula, é mandada para a diretoria. No entanto, ao invés de receber a chamada de atenção que esperava, a diretora lhe oferece uma ideia: por que não fazer um intercâmbio?

"Mas aprendi que às vezes a gente precisa passar por um perrengue para realmente dar valor quando uma coisa muito legal aparece (...)"

Esse é o último ano em que ela pode ser aceita para um programa escolar, pois está com 17 anos. Júlia sempre quis fazer intercâmbio no México, mas sua mãe insistia para que ela fosse aos Estados Unidos. A mudança súbita de destino certamente dificultaria as coisas, mas a menina não queria perder essa oportunidade, então estava disposta a ceder.

Por pouco ela não é aceita pela Across, já que os intercambistas costumam programar tudo com bastante antecedência e três meses é pouco para conseguirem uma família anfitriã. No entanto, parece que as coisas querem dar certo para Júlia, e em agosto ela parte para um novo país, com o mínimo de conhecimento na língua de lá, mas muita empolgação.

"(...) Meus pais não estavam por perto, sejam biológicos, emprestados ou americanos. Eu não precisava dar satisfações a ninguém — a não ser que eu enlouquecesse com o cartão de crédito. Eu fazia questão de ter o controle de onde ia. Toda companhia era bem-vinda, mas a minha era suficiente."


Ela percebe que nem tudo serão flores quando chega à casa da família Webster, em Mount Hood, no Oregon. Descobre que não só terá que dividir o quarto com a filha mais velha dos anfitriões, como também com uma intercambista da Alemanha, Karin, e uma japonesa, Saori. Além da família, a casa ainda conta com a ilustre presença vários animais, incluindo lhamas!

"Eu me sentia como um desses viajantes do tempo. Em geral, nós temos mais ou menos uma ideia do que sejam as pessoas, os carros, as roupas, a vida, no futuro, mas chegamos lá e, ao contrário das expectativas, a vida não é como a dos Jetsons, os robôs não são empregadas domésticas e ninguém é teleportado para o trabalho. E você se vê contrariando as expectativas das pessoas do passado, que imaginavam que viria de macacão metálico em uma nave espacial. É uma sucessão de expectativas frustradas."

Além de ter que lidar com os dramas de estar em um novo país, aprendendo outra língua, com pessoas desconhecidas e com saudades de casa, a vida com os Webster vai piorando e o que deveria ser a realização de um sonho parece tornar-se cada vez mais um pesadelo. E ainda precisa controlar sua quedinha por um crush da escola. Parece que o fim do ensino médio será um ano e tanto.

"— No final, a gente quer ser companheiro, estar lá pra ajudar a pessoa, mas meio que precisamos colocar a máscara de oxigênio em nós mesmos antes de ajudar a pessoa do lado, né? Se não, os dois acabam sofrendo. É disso que você precisa lembrar — concluiu, olhando nos meus olhos."

É muito fácil acompanhar a Júlia. Ela é uma personagem descontraída, fácil de se identificar. Cheia das dúvidas típicas de adolescentes, ainda tem muito o que aprender sobre a vida, e o intercâmbio foi a oportunidade perfeita para fazê-la crescer. É notável o quanto ela evolui, amadurece, torna-se independente e segura de si com o passar dos meses. A amizade que ela constrói com as outras intercambistas, Karin e Saori, é bem legal. À princípio não parece existir nenhuma semelhança entre elas, mas nada que um inimigo em comum não resolva, né? 😂 Senti falta de uma maior participação da Bel, melhor amiga da Júlia. Mas entendo que era realmente complicado manter contato constante e deu para perceber que a amizade delas se manteve, apesar da distância. Gostei bastante da mãe da Júlia, é uma mulher forte e determinada. Já a família Webster é um terror, só fiquei com pena da Taylor. Por sorte, surgem pessoas boas pelo caminho, que ajudam essa aventura a ficar mais leve. E sobre o crush de Júlia, Sebastian: sai dessa, cara! Que garoto complicado! Não conseguiu me convencer. 😝


Essa história se inicia no ano de 2002, o que achei muito legal por parte da autora. É interessante porque eu era uma criança nessa época e experimentei muitas das coisas que a Larissa usa de referência no livro. São coisas que os adolescentes de hoje nem conhecem. Haha Portanto, o enredo é bastante nostálgico, é feito pro leitor relembrar o passado. E muitas das dificuldades que a Júlia enfrenta seriam facilmente resolvidas com a tecnologia que temos a nossa disposição atualmente. Só esperava uma maior participação de lhamas na história, por causa do nome e da capa. Elas até têm seu momento de brilho, mas nem de longe aparecem tanto. Haha

"(...) E foi quando eu aprendi a primeira lição: quando você se preocupa em não pagar mico, não se diverte."

O livro é narrado em primeira pessoa e funciona quase como um diário da Júlia. Ficamos por dentro dos seus pensamentos mais dramáticos e cômicos, dos seus medos e suas inseguranças. Isso faz com que a gente praticamente se sinta vivendo a vida dela. A escrita da Larissa é muito fluida, eu sentia vontade de ler sem parar. E além da criatividade para a história, a autora também foi bastante criativa com os títulos dos capítulos: eles remetem a filmes! Não consegui descobrir todos, mas sempre me divertia quando percebia o nome original de alguns. Hahaha

O trabalho da editora Sinna está lindo demais, a diagramação ficou uma fofura! As fontes usadas são bem confortáveis, as páginas que iniciam os capítulos tem uma marca d'água de lhama, os títulos dos capítulos são bem delimitados e ainda podemos encontrar pequenas lhamas fofinhas nas divisões. Porém, nada poderia ser tão perfeito, então tenho algumas reclamações a fazer também. Haha A revisão deixou passar alguns deslizes de digitação, mas nada que me incomodasse. O que realmente me incomodou foi que em alguns diálogos as falas não estavam bem definidas, faltavam travessões e pulos de parágrafo, e isso torna a leitura confusa nesses pequenos trechos. Outra coisa que me irritou bastante foi a falta de número da página numa alta frequência delas e às vezes eu precisava ficar fazendo as contas para saber onde estava, porque um capítulo inteiro estava sem paginação. Pode ser que isso não incomode ninguém, mas eu fiquei bem irritada (pode me chamar de neurótica, não ligo hahaha). Mas no geral o livro está lindo, incluindo essa capa rosa! de lhama. Haha


Só queria dizer que eu já estou com saudades da Júlia e queria mais sobre suas aventuras! Esse livro me deixou com uma vontade louca de fazer intercâmbio, mesmo com todos os problemas que ela enfrenta. Confesso que um dos arrependimentos da minha vida é não ter feito um, mas essa história dá um gostinho pra gente de como é descobrir um novo país e se virar num mundo completamente desconhecido. Se você já passou por essa experiência, provavelmente vai se identificar com algumas coisas durante a leitura. Mas se não passou também, vem conhecer a história dessa menina e se deliciar com uma leitura leve e divertida, ótima pra ajudar naquela ressaca literária e a passar um tempo gostoso durante a quarentena. 😉


E para quem leu e curtiu, recentemente a autora lançou um conto spin-ff. Você pode comprar o e-book Meio de Campo clicando aqui.
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2 comentários:

  1. Também fiquei com vontade de fazer um intercâmbio após ler esse livro! Adorei sua resenha, as aventuras de Júlia são interessantes e adorei ver o amadurecimento do personagem.

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  2. Acho que quem leu e não ficou com vontade de fazer intercâmbio, leu errado e tem que ler de novo! hahahaha

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